quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Terapia de casal

* Luiz fernando veríssimo

Contam que outra vez um casal pediu para consultar, juntos, o analista de Bagé. Ele, a princípio, não achou muito ortodoxo.

 — Quem gosta de aglomeramento é mosca em bicheira... Mas acabou concordando.

— Se abanquem, se abanquem no más. Mas que parelha buenacha, tchê!
.
Qual é o causo? — Bem — disse o home — é que nós tivemos um desentendimento...

 — Mas tu também é um bagual. Tu não sabe que em mulher e cavalo novo não se mete a espora?

— Eu não meti a espora. Não é, meu bem?

— Não fala comigo!

 — Mas essa aí tá mais nervosa que gato em dia de faxina.

 — Ela tem um problema de carência afetiva...

 — Eu não sou de muita frescura.  Lá de onde eu venho, carência afetiva é falta de homem.

— Nós estamos justamente atravessando uma crise de relacionamento porque ela tem procurado experiências extraconjugais e...

— Epa. Opa. Quer dizer que a negra velha é que nem luva de maquinista?

Tão folgada que qualquer um bota a mão?

— Nós somos pessoas modernas.

Ela está tentando encontrar o verdadeiro eu, entende?

 — Ela tá procurando o verdadeiro tu nos outros?

— O verdadeiro eu, não. O verdadeiro eu dela.

— Mas isto tá ficando mais enrolado que lingüiça de venda.

Te deita no pelego.

— Eu?

 — Ela. Tu espera na salinha.

Texto extraído do livro "O gigolô das palavras", L&PM Editores – Porto Alegre, 1982, pág. 78.

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