sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Para muitos povos da floresta, não há crescimento populacional que os salve.
“A Constituição de 1988 mudou o lugar dos indígenas, ao garantir o direito de ser diferente”, afirma o historiador John Manuel Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De fato, mas, para eles, viver na floresta só continua sendo possível com uma voadeira equipada na beira do rio, substituindo a dolente piroga a remos: sua velocidade salva vidas e transporta bens essenciais, mas um motor custa R$ 8 mil e óleo diesel está caro – e as aldeias não têm dinheiro. Jovens índios que foram estudar nos grandes centros voltam entusiasmados com a fartura e a excelência da vida urbana, relatando maravilhas tecnológicas que melhorariam a vida nas aldeias (o freezer, por exemplo, ganha longe do moquém).
As imensidões das TIs são essenciais para garantir a perambulação, traço peculiar da organização social indígena, ensina a geógrafa Ivani Ferreira de Faria, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que trabalha com etnias de todo o Estado. Mas os índios perambulam cada vez menos, atesta a socióloga Marilene Corrêa, reitora da Universidade Estadual do Amazonas (UEA). Hoje, eles vivem entre a aldeia e a cidade mais próxima, com um pé na tradição e outro nas benesses da moder-nidade – mas sem dinheiro para comprá-las.
Boa parte dos índios depende, cada vez mais, de cestas básicas doadas pelo governo, ONGs ou universidades, usam a merenda escolar para alimentar adultos e sonham com o dia em que serão, afinal, acolhidos como felizes beneficiários do Bolsa-Família – muitos já são e causam inveja. “Estamos num mundo de mudanças inevitáveis”, admite Jorge Terena, que estudou nos Estados Unidos e hoje assessora a ONG The Nature Conservancy.
O sinal vermelho acende nos momentos em que, à falta de vacinas, doenças incontroláveis ceifam vidas – na medicina do pajé, pneumonia e hepatite não têm remédio. Mas nem por isso a situação é trágica: a população indígena da Amazônia, que Darcy Ribeiro equivocadamente previa próxima da extinção nos anos 50, na verdade está crescendo. Estima-se que haja 500 mil indígenas na Amazônia; desses, 240 mil, segundo a Funai, vivem nas TIs. Quer dizer, 52% dos índios, na melhor das hipóteses, vivem fora das reservas. O temor das lideranças é que o êxodo das TIs seja o ponto de partida para desqualificar a necessidade de tanta terra.
As populações indígenas crescem a taxas exponenciais, algo como 3,5% ao ano, revela a demógrafa Marta Azevedo, professora da Unicamp e consultora do Instituto Sócio-Ambiental (ISA), enquanto a população brasileira, entre 1991 e 2004, cresceu a uma média anual de 1,8%. Eles exibem uma taxa de fecundidade espantosa: enquanto a brasileira, em 2005, estava em 2,2 filhos por mulher, entre os índios o número foi de 6 (os xavantes chegam a registrar 9 filhos por mulher). Na década de 80, estimou-se que o Brasil tinha 300 mil índios, mas 700 mil pessoas se declararam indígenas no Censo de 2000, no auge das comemorações pelos 500 anos do descobrimento.
Mas um índice puxa para baixo. Os povos indígenas ainda apresentam taxas africanas de mortalidade infantil. Enquanto em 2005 a taxa brasileira foi de 25,7 mortes de crianças até 5 anos por mil nascidos vivos e a do Amazonas foi de 17,9, a dos índios tem sido, regularmente, de mais de 80, garante Marta.
Para muitos povos da floresta, não há crescimento populacional que os salve. Com menos de 200 indivíduos – população mínima para procriar sem haver contaminação pelas relações de parentesco –, 61 povos, segundo o ISA, estão condenados à opção de fundir-se com outras etnias ou simplesmente desaparecer – 12 etnias têm só entre 2 e 38 indivíduos. “Quando morrem dez brancos, perdem-se vidas; quando morrem dez indígenas, perde-se uma civilização”, resume o antropólogo Beto Ricardo, do ISA.
Fonte: O Estadão
Pobres bilionários de terras- Donos de 13% do Brasil, índios mal têm o que comer.
ALTO RIO NEGRO (AM) - A arqueologia provou que há mais de 500 anos a agricultura dos índios amazônicos ocupava largas áreas. Hoje, eles mal têm uma rocinha de mandioca, a base da sua alimentação. Para comer, dependem de cestas básicas e da merenda escolar. Na aldeia São Jorge, dos tucanos, o segundo “capitão” (cacique) Joselino Tukano sonha domar as terras ácidas e arenosas do noroeste amazônico e ampliar a lavoura de maniva, num platô acima do Rio Curicuriari. Não tem sido fácil.
Os índios têm muito espaço – as terras indígenas (TIs) da Amazônia superam as áreas de França e Espanha juntas –, mas desconhecem técnicas e insumos. Os índios da Amazônia se tornaram os maiores proprietários de terra do Brasil depois que a Constituição de 1988 definiu que eles tinham direitos sobre as terras que tradicionalmente ocuparam. Eles são 0,2% da população, mas as TIs ocupam 13% da superfície brasileira; 98,6% delas estão na Amazônia, onde 60% dos índios (240 mil) vivem em 414 áreas que somam 1,08 milhão de quilômetros quadrados – quase um sétimo da área total do País ou 20,7% da Amazônia Legal. Ali, cada índio tem para si 7 km² (a taxa demográfica de São Paulo é de 163 pessoas por km²).
Líderes indígenas garantem que a única forma de salvar a Amazônia é manter o modelo e o tamanho das TIs. “Nós somos especialistas em usar sem destruir. Fazemos isso há milênios”, disse um deles, Bonifácio Baniwa, presidente da Fundação Estadual dos Povos Indígenas do Amazonas, vinculada ao governo estadual. “As TIs demarcadas estão segurando a destruição da floresta”, diz Jecinaldo Sateré, líder da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
Uma olhada no mapa atual de desmatamento da Amazônia mostra que eles têm razão. As manchas vermelhas que acusam o desmatamento contornam e abraçam as terras indígenas – mas não penetram nelas. As TIs estão mesmo contendo a devastação. Isso aumenta o alerta dos líderes indígenas; eles sabem que a pressão só aumentará sobre as terras virgens que pertencem aos índios.
Sabem, também, que duas cobiças vão pairar sempre como ameaça sobre o modelo de TIs conquistado na Constituição – uma delas mira o uso do solo e a outra, mais delicada, foca as riquezas do subsolo. A mesma Constituição que lhes garantiu as TIs lhes suprimiu devaneios sobre a exploração mineral do subsolo por eles mesmos – todas as riquezas do subsolo pertencem à União. E define que, em caso de “relevante interesse público da União”, os recursos minerais das TIs podem ser explorados, ouvido o Congresso Nacional, pelo governo, e não por eles.
Os índios se dividem sobre a exploração mineral em suas terras. Os tucanos e os baniuas são a favor, desde que eles próprios administrem a exploração; outros, como os ianomâmis e os uaimiri-atroaris, têm boas razões para serem contra. Os ianomâmis recorreram à história imemorial relatada por antepassados e fizeram um mapa geológico simples de suas terras. Não há cópia. O original foi mostrado a apenas três brancos de sua confiança. Um desses brancos contou ao Estado que o mapa registra locais precisos para ocorrências como “ouro” ou “nióbio”. Evidências dessas concentrações são notórias: as cartas do Ministério da Aeronáutica advertem que a região tem anomalias magnéticas que provocam alterações nos controles analógicos de aeronaves.
A cultura dos ianomâmis fundamenta a posição rigorosa contra a mineração. Conta a lenda deles que os minerais existentes no subsolo foram guardados lá por Omamë, o fundador da nação ianomâmi. Enquanto esses minerais ficarem no fundo da terra, nada acontecerá de ruim; mas quando forem retirados e processados, a fumaça produzida no processo de fusão é uma maldição – a xawara – que se alastra pela floresta, dizimando o povo. A xawara já aconteceu, para provar a lenda: entre 1987 e 1990, 15% da população ianomâmi morreu, quando um garimpo semiprofissionalizado invadiu suas terras.
Não há, agora, nenhum genocídio à vista, mas os índios não têm qualidade de vida, mesmo para os seus modestos padrões. “Eles são bilionários em quantidade de terras, mas vivem uma vida de miseráveis”, constata Virgílio Viana, secretário de Meio Ambiente do Amazonas. As TIs imensas pagam a recompensa histórica devida aos índios, mas não têm sido suficientes para lhes garantir uma vida com qualidade. Eles são incapazes de prover sua alimentação, garantir sua saúde e sua educação; as medicinas dos pajés curam as doenças naturais, mas são cada vez mais impotentes para debelar os males importados.
Fonte: O Estadão
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
sábado, 16 de agosto de 2008
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Amazônia - Sinfonia Divina
O astro rei ainda rega o jardim da vida
Polinizando o verde, regendo a Amazônia,
Amazônia de acordes de brisas,
Percussão de rios e cachoeiras,
No estrondar da pororoca,
No rugir da onça-pintada.
No canto lírico da Yara, mãe d’água,
Traz o cântico dos pássaros,
Sob o véu da mata em orvalho
A canção do uirapuru
A voz da preservação,
Sinfonia natural ecoa súplicas divinas.
Que lutem os defensores do bem:
Pela vida, pelo sonho,
Ame e abrace sua árvore hoje,
Para não colher cinzas do amanhã,
Caboclos tenham orgulho de ser caboclos,
Índios não sejam escravos
Livrem-se do mal da extinção
Amazonidas, filhos da miscigenação,
Lutem pela preservação.
(Alvino, V; Rebelo, J.; Barbosa, A.) – Boi Garantido
Amazônia - DESMATE ZERO
Amazônia pode virar savana a partir de 2050, dizem especialistas. O debate ambiental no país ainda está longe da efetividade que poderá salvar a Amazônia
EDUARDO SIMÕES - REUTERS
SÃO PAULO - O Brasil se vê na responsabilidade de cuidar mais do meio ambiente do que os seus vizinhos, principalmente pelo fato de hospedar em seu território a parte mais expressiva da maior floresta tropical do mundo.
O debate ambiental no país ainda está longe da efetividade que poderá salvar a Amazônia e, por tabela, ajudar a manter o aquecimento global sob controle. Mesmo assim, o manejo da floresta não escapa de perspectivas sombrias.
"Nós estimamos que, com o andar da carruagem do aquecimento e do desmatamento, já em 2050 nós teríamos os sinais claros de savanização (da Amazônia)", disse o especialista em mudanças climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre.
"Em 2100, a grande região centro-leste (da Amazônia) já estaria savanizada", acrescentou.
O pesquisador tem como base os dados preliminares de um estudo recém-concluído pelo Inpe, que aponta que, caso o índice total de desmatamento da Amazônia supere os 40 por cento, ou as temperaturas da região subam entre 3,5 e 4 graus Celsius, seria deflagrado um processo de savanização da floresta.
Nobre lembra que os incêndios florestais também colaboram para a savanização.
Uma transformação da Amazônia em savana traria como consequência, além da perda de biodiversidade, a possibilidade de mudanças no clima de outras regiões, especialmente o sul do Brasil e o norte da Argentina, segundo Nobre.
"(Com a savanização) você teria uma grande redução na distribuição de chuvas que a Amazônia faz para várias regiões da América do Sul", comentou o coordenador do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Paulo Moutinho, que vê também consequências negativas para o agronegócio e para o potencial hidrelétrico da região.
DESMATE ZERO
O desmatamento é o carro-chefe das emissões brasileiras dos gases do efeito estufa. De acordo com alguns especialistas, o Brasil cairia da 4a para a 18a posição entre os maiores emissores caso a destruição da floresta fosse tirada da conta.
A Amazônia, apontada por especialistas como importante armazém de carbono, teve desmatados 7.823 quilômetros quadrados de sua área entre agosto de 2007 e junho deste ano, um salto se comparado aos 3.949 quilômetros quadrados perdidos no mesmo período do ano anterior, segundo dados do Inpe. Os estudiosos consideram os 12 meses entre agosto e julho como o calendário anual para a medição do desmatamento.
"Efetivamente, a coisa mais rápida (a se fazer para evitar esse cenário) é parar o desmatamento", defendeu Moutinho.
O Brasil criou, na semana passada, o Fundo da Amazônia, que prevê investimentos em atividades para preservar e monitorar a região amazônica brasileira. Está previsto ainda que até 20 por cento dos recursos arrecadados para o fundo sejam destinados a outros países com floresta tropical.
A meta de desmatamento zero, no entanto, é vista como irrealizável por especialistas como o professor José Goldemberg, da Universidade de São Paulo (USP).
"Seria preciso um conjunto de políticas públicas que claramente o governo, não só esse governo, o governo anterior, seria incapaz de tomar", disse.
Ele aponta, no entanto, algumas medidas como a regularização da situação fundiária na região e um melhor controle das unidades de conservação, que contam com número insuficiente de fiscais.
"Para isso você precisa aumentar o orçamento do Ministério do Meio Ambiente, do Ibama e do Instituto Chico Mendes", explicou Rachel Biderman, pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, que elogia medidas como o fim de concessão de crédito a atividades que provocam o desmatamento.
"Não havendo financiamento de ilegalidades na Amazônia, você já segura boa parte do problema", explicou.
Outra medida defendida por muitos especialistas, e que atualmente é alvo de negociações em fóruns internacionais, é a criação de um mecanismo global de mercado que transforme o desmatamento evitado em créditos de carbono.
Esses créditos podem ser vendidos pelos países que evitam ao desmate a outras nações que não conseguirem cumprir suas metas de redução de emissões.
"Sem esse mecanismo, vai ser muito difícil a gente conseguir evitar processos de mudanças drásticas na vegetação amazônica", disse Moutinho, do Ipam.
http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid217356,0.htm
Proposta de nova lei segue sem acordo
da Redação - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Um dos maiores entraves para fazer pesquisas de bioprospecção no Brasil é a legislação. E isso nem é reclamação apenas dos pesquisadores e empresas, mas uma situação reconhecida pelo próprio governo.
Mas quando, enfim, a Casa Civil colocou em consulta pública o anteprojeto de lei (APL) que deveria corrigir as distorções da Medida Provisória que rege a questão desde 2001, ele se mostrou uma colcha de retalhos que tentava agradar todo mundo, mas que no final das contas não agradou ninguém.
Para Rute Gonçalves Andrade, uma das representantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) nas discussões, o novo projeto ainda ignora um dos principais pedidos dos pesquisadores que é o de descriminar a pesquisa.
"Hoje para um projeto ser aprovado é preciso passar pela análise de vários comitês de ética. Isso já é um controle. Além disso queremos que as próprias instituições possam se responsabilizar pelos seus pesquisadores", afirma.
Apesar das críticas, ela pondera que talvez tenham ocorrido alguns avanços. "Quando saiu o APL, líamos tudo aquilo com a impressão de que nada tinha mudado. Com uma leitura mais atenta ao longo dos meses, conseguimos já vislumbrar algumas melhoras, mas, ainda assim, não está bom, tem de facilitar a pesquisa", comenta a pesquisadora.
Um dos pontos questionados é o que prevê que, quando uma determinada substância é descoberta com o auxílio do conhecimento tradicional, logo se faça um contrato que garanta a repartição de eventuais lucros que sejam obtidos.
"Acreditamos que essa exigência só deva valer quando a pesquisa de fato avançar para o desenvolvimento de um produto com um parceiro comercial. Antes disso só cria entrave para a pesquisa, além de gerar uma ansiedade que pode não se comprovar. Na prática sabemos que, de tudo que é coletado, nem 1% pode de fato originar um produto", defende o biólogo Carlos Joly, da Unicamp.
Ele questiona ainda que o APL não trouxe avanços pontuais que tinham sido obtidos desde a edição da MP. "É um retrocesso. Ele simplesmente despreza todas as negociações que fizemos ao longo desses anos."
Para Braulio Dias, diretor de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, algumas exigências que vêm sendo feitas pela academia são legítimas, mas outras não. "De fato o texto que foi à consulta pública é um ajuntamento de propostas de vários setores. Mas há o compromisso de enxugar, tornar o texto limpo e coerente, incorporando as sugestões que conciliem os diversos interesses", afirmou. "Claro que talvez permaneçam alguns pontos conflitantes, mas o governo está sensível para o fato de que o País precisa de uma lei que resolva a questão."
O texto do anteprojeto de lei ficou disponível para comentários e sugestões até meados de julho e agora está de volta à Casa Civil para incorporações e ajustes, antes de ir para o Congresso.
MEDIDAS PREVISTAS NO ANTEPROJETO DE LEI
AGROBIOVIVERSIDADE - Novo conceito que se refere apenas às espécies usadas na agricultura, que teriam tratamento diferenciado do resto da biodiversidade
CNACT - Cadastro Nacional de Controle de Atividades de Pesquisa Científica ou Tecnológica de Recursos Genéticos. Administrado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para registrar todos os cientistas e atividades relacionados ao estudo da biodiversidade
CNGEN - Cadastro Nacional de Acesso aos Recursos Genéticos e ao Conhecimento Tradicional Associado. Vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), para o registro de atividades envolvendo o uso de recursos genéticos e/ou de conhecimento tradicional
CNAB - Cadastro Nacional de Agrobiodiversidade. Gerenciado pelo Ministério da Agricultura, para o controle de atividades envolvendo recursos genéticos e uso de conhecimentos tradicionais relacionados à agrobiodiversidade
AGROBIO - Órgão Gestor do Recurso Genético Proveniente da Agrobiodiversidade, que seria criado para gerenciar o CNAB e proteger os direitos dos agricultores
CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico. Imposto que incidiria sobre a exploração comercial de recursos genéticos e conhecimentos tradicionais, com alíquotas de 1% a 2%
FURB - Fundo de Repartição de Benefícios do Recurso Genético dos Conhecimentos Tradicionais Associados, um fundo vinculado ao MMA que receberia metade dos recursos arrecadados pela Cide para uso em políticas de conservação da biodiversidade e dos conhecimentos tradicionais
Tags: proposta, lei, pesquisas, bioprospecção, natureza, meio ambiente
Para vasculhar a Amazônia, quanto mais coleta...
SÃO PAULO - Como encontrar em meio ao universo verde da Amazônia plantas que de fato tenham algum poder terapêutico? Uma solução pode ser coletar o maior número de espécies possível e depois testá-las nos mais diferentes modelos de doenças, como vem fazendo uma equipe de pesquisadores da Universidade Paulista (Unip) e do Hospital Sírio Libanês.
Em meados da década de 90, o grupo, liderado pelos oncologistas Drauzio Varella e Riad Younes, começou a coleta botânica nas margens do Rio Negro. O objetivo era procurar substâncias que fossem capazes de combater células tumorais e bactérias resistentes a antibióticos.
Entre 1997 e 2002 e de 2006 para cá foram selecionados cerca de 2.200 extratos de plantas.
Pouco mais da metade, 1.220, já foram testados in vitro para os dois grupos de células, e apenas 10% mostrou alguma atividade: 70 foram capazes de matar células de tumor (de mama, próstata, pulmão, cólon, cérebro e leucemia) e 50 destruíram bactérias ligadas a infecções hospitalares, a doenças bucais e diarréias.
A pesquisa, no entanto, ainda é inicial e ilustra bem a dificuldade de fazer bioprospecção.
"Mostramos que os extratos são capazes de inibir a divisão celular dos tumores e bactérias, mas nem sabemos ainda quais são as moléculas de fato responsáveis por isso, nem se elas também pode causar danos a células humanas", explica a farmacêutica Ivana Suffredini, chefe do laboratório de extração da Unip. Só agora, com a entrada do Sírio no projeto, com laboratórios e investimento de R$ 1 milhão, é que os extratos serão purificados para a identificação dos princípios ativos.
O forte desse trabalho, até o momento, é seu tamanho. A extratoteca é provavelmente a maior do gênero no Brasil e ainda pode ser muito explorada. De acordo com Younes, que levou o projeto para o Sírio, onde é diretor clínico, novas frentes de pesquisa estão sendo abertas e os extratos serão testados para outros modelos de doenças.
"Alguns parecem ter papel anticoagulante, outros apresentaram potencial antioxidativo. Essa característica pode ser interessante para proteger pacientes que ficam muito tempo em UTI e acabam com o pulmão fragilizado pelo aumento de oxidação. E também vamos incluir outros modelos de tumores, em especial o de bexiga", diz Younes.
"É uma pesquisa gigantesca e queremos continuar coletando e testando mais e mais espécies. Se em 10 mil extratos acharmos um realmente eficiente para alguma doença, já teremos feito nossa parte", afirma.
Tags: amazônia, coleta, espécies, meio-ambiente
http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowAudios.action?destaque.idGuidSelect=DE9EE8C201D24141BEF0E66B6CF939E2
A INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA
Cristovam Buarque diz: Amazônia é nossa, mas discurso não basta... Senador que fez pronunciamento memorável contra internacionalização da Amazônia diz que pressão sobre o Brasil vai aumentar.
Ouça a matéria na integra: http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowAudios.action?destaque.idGuidSelect=DE9EE8C201D24141BEF0E66B6CF939E2
A ÁRVORE ANCESTRAL
A Samaumeira Ancestral
Unia a terra ao céu e velava a luz
Seus galhos foram enlaçados nas nuvens
Pela preguiça real.
Da saga dos irmãos Ypi e Yói
As estrelas despontaram,
a luz foi descoberta.
Do tronco da Samaumeira formou-se o Solimões
Dos galhos brotaram afluentes e igarapés.
As folhas transformaram-se em sapos.
E de uma flor nasceu Telchi
A primeira Cunhã-poranga.
E a Cunhã Telchi pescou os peixes
Que se tornaram gente
Uns caminharam para aurora
Outros rumaram ao poente
E os Ticuna povoaram o Alto Solimões.
Nação Ticuna
A origem da harmonia de natureza e cultura.
Autoria: (Haidos, D.;Pantoja, G.)Boi Caprichoso
terça-feira, 5 de agosto de 2008
GUARICAYA! O SENHOR DAS MATAS
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
"O SILÊNCIO”
Nós os índios, conhecemos o silêncio. Não temos medo dele. Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras.
Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silencio e eles nos transmitiram esse conhecimento, “observa, escuta, e logo atua”, nos diziam. Esta é a maneira correta de viver.
Observa os animais para ver como cuidam de seus filhotes.
Observa os anciões para ver como se comportam.
Observa o homem branco para ver o que querem, sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás.
Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.
Com vocês, brancos e pretos, é o contrário, vocês aprendem falando. Dão prêmios às crianças que falam mais na escola. Em suas festas, todos tratam de falar.
No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes. E chamam isso de “resolver um problema”.
Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons. Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer. Vocês gostam de discutir, nem sequer permitem que o outro termine uma frase, sempre interrompem.
Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive, se começas a falar, eu não vou te interromper, te escutarei. Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo, mas não vou te interromper.
Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante. Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei.
Terás dito o que preciso saber. Não há mais nada a dizer, mas isso não é suficiente para a maioria de vocês. Deveríamos pensar nas suas palavras como se fossem sementes.
Deveriam plantá-las e permiti-las crescer em silêncio. Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.
Existem muitas vozes além das nossas. Muitas vozes, só vão escutá-las em silêncio.
Texto traduzido por Leela, Porto Alegre: “Neither Wolf nor Dog. On Forgotten Roads with na Indian Elder” - Kent Nerburn. (Tradução: “Nem lobo nem cão. Em estradas esquecidas com a pessoa idosa índia”).
Assinar:
Postagens (Atom)