Segundo Marciano Vital (Catedrático da Teologia Moral na UPC de Madri) o horizonte cultural do presente está marcado pelo traço profundo da "crise". As análises que se falam sobre crise do casal se situam em duas vertentes: nas RELAÇÕES do casal e nos MODELOS em que ele se configura.
1- Crise nas relações do casal
O casal é espreitado pelas tentações inerentes a qualquer relação interpessoal. É fácil enumerar um conjunto de "ameaças" que dizem respeito ao futuro da vida do casal.
- DECEPÇÃO. No dia-a-dia, sob o mesmo teto, descobrem-se aspectos desconhecidos dos cônjuges que, em algumas ocasiões, podem contrastar com a imagem ideal que se tinha dela ou dele. Deve-se desenvolver habilidades específicas para manejar a relação e assim conseguir aceitar o outro tal como é.
- IMATURIDADE. Quando um membro do casal permaneceu preso em uma etapa evolutiva (por exemplo, em sua infância) e não assume as responsabilidades vinculadas a sua nova escolha, a situação se torna muito difícil e dá origem a profundas frustrações.
- EGOÍSMO. É a tentação do "eu", "mim", "me", "comigo". A parceria é um trabalho de equipe; quando um dos membros não quer conjugar a vida com o "nós", o vínculo tende a se afrouxar e chega até a se romper.
- FALTA DE PALAVRAS. Quando a lista de silêncios vai aumentando em igual proporção ao ressentimento acumulado, então a vida de parceria começa a desaparecer. Os membros do casal terminam mostrando mais confiança em uma pessoa alheia do que com quem se convive debaixo do mesmo teto. Os casais felizes também brigam e enfrentam problemas. Diálogo e sinceridade são imprescindíveis para continuar juntos. As queixas em voz alta, com precisão e clareza, diminuem a importância do aborrecimento e minimizam o conflito.
- AUTO-ENGANO. A técnica comum de vendar os olhos nunca funciona. Tampouco prometem muito as uniões nas quais um dos membros projeta no outro seu ideal de pessoa e o disfarça de alguém que não é.
A essas "ameaças, comuns a qualquer dinâmica de relação interpessoal, devemos acrescentar as que são mais peculiares à vida do casal.
Para A. Moncada (autor do livro La crísis de la pareja. Madrid, 1992) é indubitável que o matrimonio deixou de ser uma instituição que impõe deveres e submissões, e se converteu em um âmbito de relações interpessoais, livres e gratificantes. Contudo, essa nova compreensão do matrimônio foi acompanhada por novos perigos e novas dificuldades:
# A monotonia da vida em comum;
# O tédio recíproco;
# A repetição de infidelidades, que, em muitos casos, é um pretexto para sair de uma situação de bloqueio interpessoal.
Para Moncada, no casal atual tende-se a consumir muito amor e muito sexo. Essa forma de satisfação se expressa no amor lúdico e na dispersão sexual prazerosa, mas gera também violência desmedida e, em alguns casos, chega a produzir um vazio de cunho neurótico. A paixão fungível dotada de finitude, procura novos objetos eróticos para acalmar sua energia pulsional.
O autor também analisa as possibilidades que existem para manter a vida de parceria:
- Solidariedade afetiva;
- Evolução sentimental dirigida a uma vivência tranquila;
- Considerar o "outro" como um companheiro;
- Sócio nos interesses comuns.
Há, contudo, outra solução:
- A ruptura abrupta e o começo de novas relações amorosas na monogamia sucessiva ou em uma parceria sem o compromisso social do matrimônio.
As causas principais desse desamor têm sua raiz na "egoidade" dominante, no isolamento a que a sociedade nos confina, a ausência de laços afetivos entre as criaturas, o desamparo, a falta de reciprocidade que existe na vida quotidiana e, principalmente, "a solidão urbana".
Tudo isso explica o processo de esfriamento amoroso em que acaba a relação de casal.
Fonte: Marciano Vital
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