Pesquisadora brasileira cria novo método para investigar a presença de substância tóxica no leite industrializado. Uma das principais vias de contaminação é o pesticida usado contra carrapatos que infestam o gado leiteiro.
Alimento de alto valor nutricional e comum na dieta de crianças e idosos, o leite pode esconder sérios riscos à saúde dos consumidores. Um deles está na presença de resíduos de pesticidas no líquido, particularmente do clorpirifós etil, substância tóxica presente em inseticidas contra carrapatos.
Um novo método de triagem, desenvolvido no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz), é capaz de identificar em até 24 horas a presença desse composto no leite.
Nesse processo, o leite industrializado passa por duas etapas de análise. Primeiro, acrescenta-se solventes específicos à amostra do líquido com o objetivo de extrair e separar proteína e gordura do extrato que será analisado.
Em seguida, utiliza-se um kit enzimático - formado pela enzima acetilcolinesterase e outros reagentes - para verificar nas amostras de leite a presença do pesticida. Quando está presente, ele inibe a atividade enzimática e essa inibição pode ser observada pela mudança de tonalidade da solução.
"Essa técnica, qualitativa, facilita o monitoramento do leite, mas deve ser complementada por outra, que quantifica e identifica os compostos organofosforados [substâncias ativas dos pesticidas]", afirma a engenheira química Christina de Jesus Morais, que desenvolveu a técnica durante o seu doutorado no INCQS/Fiocruz.
IDEIA ANTIGA, USO NOVO
O kit enzimático usado por Morais para desenvolver o novo método foi criado por seu orientador, o médico Mauro Velho de Castro Faria, daUniversidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), para detectar pesticidas na água.
Para verificar a eficácia e sensibilidade do kit na detecção de pesticidas no leite, um líquido mais complexo do que a água, a pesquisadora utilizou leite orgânico acrescido de diferentes dosagens do clorpirifós etil -- de 5 a 200 partes por bilhão (ppb). Foi possível identificar a presença da substância tóxica mesmo nas dosagens mais baixas, de 5ppb, significativamente menor do que as 10 ppb permitidas pela legislação brasileira, o que comprova a eficiência do método.
Além de prático e ágil, o novo método pode representar uma economia importante para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em vez de submeter todo o leite industrializado aos tradicionais testes de identificação e quantificação, apenas o leite pré-avaliado como impróprio, ou seja, com concentração de clorpirifós etil próxima dos 10 ppb, seguiria para essas análises.
A expectativa de Morais é que o novo método faça parte do próximo programa de monitoramento do leite da agência.
EFEITOS NO ORGANISMO
Componente químico de pesticidas, o clorpirifós etil chega ao leite por duas vias principais: pela ração contaminada ou pelo tratamento contra carrapatos, sendo este último o mais comum.
Quando o gado leiteiro é banhado com medicamentos antiparasitários, uma quantidade do pesticida penetra no organismo do animal e pode chegar ao leite. "O problema é que os produtores não respeitam o período de carência, tempo necessário para o organismo metabolizar e eliminar a substância tóxica", explica Morais.
Acima da concentração estabelecida pela legislação brasileira (de 10 ppb), o clorpirifós etil ataca o sistema neurológico. Segundo a pesquisadora, ao inibir a ação da enzima acetilcolinesterase, um importante neurotransmissor associado ao movimento dos músculos, o composto tóxico pode provocar tremores, sudoreses, espasmos musculares e até uma parada cardíaca.
FONTE - Ciência Hoje On-line
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