GIBEÁ* com Julio Severo
O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, cuja principal função é articular a Presidência da República com os segmentos sociais, inclusive com os movimentos religiosos (Carvalho, inclusive, é egresso dos movimentos sociais católicos da década de 1970, 1980), em palestra dada no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre/RS, disse que o PT deveria se preparar para o “embate ideológico” com os “setores conservadores” da sociedade brasileira na “conquista da nova classe média”, formando um “sistema de comunicação” que neutralizasse os “telepastores” neopentecostais e pentecostais que, por “terem conquistado a mídia”, estariam impedindo a aprovação de pontos programáticos do PT como a descriminalização do aborto e a criminalização da homofobia.
Ele afirmou também que toda a oposição política ao PT está liquidada e que o último obstáculo são os telepastores e suas posturas conservadoras sobre aborto e homossexualismo.
Gilberto Carvalho: pediu "perdão", mas negou suas declarações, que estão gravadas. |
Essas afirmações revelaram o verdadeiro propósito do governo petista e, com uma clareza sem igual, qual é o foco do petismo para concretizar o seu projeto de poder no Brasil, a instituição de um regime político que seja capaz não só de instituir o seu modelo socialista, mas de exportá-lo para os demais países da América Latina.
Numa franqueza rara e que mais parece um deslize, o articulador do governo Dilma com os segmentos religiosos da sociedade mostrou qual é o propósito governamental em toda essa articulação: manter os segmentos religiosos da sociedade atrelados ao governo, inertes, enquanto, vagarosa mas persistentemente, se irá tentando isolar e desacreditar as poucas lideranças religiosas fiéis aos princípios cristãos, até o instante em que a população, devidamente doutrinada pelos valores anticristãos defendidos pelo governo, venha a aceitar a adoção de medidas radicalmente contrárias à fé em Cristo Jesus.
As afirmações do ministro repercutiram como uma “bomba” nos segmentos religiosos e a Frente Parlamentar Evangélica não teve outra alternativa senão romper com o ministro e, assim, pôr em risco todo o trabalho de articulação que o PT começou a construir a partir de 1994, data em que o programa Pare & Pense, de Caio Fábio, apresentou, juntamente com Valnice Milhomens, o candidato Lula, com o objetivo de desdemonizar o PT e Lula. Caio Fábio foi pioneiro em que pela primeira vez na história do Brasil um programa evangélico de TV mostrou Lula de forma positiva. Esse “trabalho” foi decisivo para que se começasse a quebrar o “veto evangélico” ao PT e que era um dos principais fatores que impedia o PT de vencer eleições presidenciais.
Caio Fábio apresentando, pela primeira vez na história do Brasil, Lula num programa evangélico de TV em 1994. Hoje Caio se gaba de que sua intenção foi aproximar Lula dos evangélicos. |
Pode-se então definir a relação do PT com os evangélicos do Brasil como a.C.F. (antes de Caio Fábio) e d.C.F. (depois de Caio Fábio). Antes de Caio Fábio, que era considerado por muitos como um papa evangélico, a maior parte do apoio ao PT vinha de igrejas históricas, com mídias evangélicas como a revista Ultimato, de linha presbiteriana, como carro-chefe do apoio à ideologia socialista. Vários dos colunistas da Ultimato eram membros do PT, inclusive Robinson Cavalcanti e Paul Freston. Caio Fábio, que também era colunista, era o maior pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Contudo, em grande parte as igrejas pentecostais e neopentecostais “demonizavam” o PT. Essa “demonização” foi vencida com o trabalho sutil ou não tão sutil do Movimento Evangélico Progressista, fundado pelo Bispo Robinson Cavalcanti, e por mídias evangélicas atreladas aos interesses progressistas de Caio Fábio e seus seguidores. Foi um trabalho de muitos anos.
Então, a declaração de Gilberto Carvalho apontando a necessidade do PT confrontar os telepastores pentecostais e neopentecostais, cria o perigo, para o PT, de destruir todo o trabalho de “desdemonização” que foi feito durante anos entre os setores pentecostais e neopentecostais.
Além disso, a declaração de confronto revelou-se extremamente inoportuna, pois ocorreu precisamente no momento em que, sutilmente, a presidente Dilma nomeava para a Secretaria de Política para Mulheres uma das maiores defensoras do aborto no país, a sua ex-colega de cela por atividades terroristas comunistas para derrubar o governo do Brasil, a feminista Eleonora Minenucci, cuja primeira tarefa será explicar à ONU a política abortista do governo brasileiro, que está aquém das expectativas daquela organização internacional, onde se engendra toda a estratégia contrária à vida humana no planeta.
Diante desta situação, o ministro pediu para se encontrar com a “bancada evangélica” e “pediu desculpas”, embora, ao mesmo tempo, tenha negado ter feito as referidas declarações, uma negativa que só se entende dentro da mentalidade aética que caracteriza o “modus operandi” marxista, já que não há como negar as declarações, gravadas que foram.
Depois de duas horas de conversas a portas fechadas, o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado João Campos (PSDB-GO), deu o caso por “superado”, dizendo que a “bancada evangélica” ficou “satisfeita com o pedido de perdão”.
O ministro, na saída da reunião, fez questão de dizer aos jornalistas que a presidente Dilma mantém o seu compromisso de deixar ao Congresso Nacional a discussão a respeito do aborto, compromisso assumido no meio da campanha presidencial junto a lideranças católicas e evangélicas.
A atitude da bancada evangélica é esquisita. O ministro pediu desculpas, embora tenha negado ter feito as declarações e, mesmo que as tivesse admitido e formulasse o referido pedido, não se poderia simplesmente dar o caso por “superado”.
As declarações do ministro revelam como o governo está agindo e que, portanto, é de absoluta má-fé a sua postura diante dos segmentos religiosos da sociedade.
O governo Dilma, e isso está claro no relatório que apresentará à ONU sobre a questão do aborto, está decididamente operando em torno da implementação dos pontos programáticos do PT, que incluem a criminalização da homofobia e a descriminalização do aborto. Apenas, por uma questão de estratégia, “cozinha em banho-maria” tais temas, buscando, junto aos meios de comunicação, obter apoio popular para tais causas, o que, inclusive, leva à ridicularização e descrédito de lideranças que têm se mantido fiéis aos princípios e valores cristãos.
Diante dessa postura, não caberia outra atitude senão o rompimento das relações com o governo de Dilma Rousseff e do PT e o início de uma verdadeira luta para que os princípios e valores cristãos prossigam sendo acolhidos e defendidos na convivência social, na legislação pátria.
O Senhor Jesus foi bem claro ao dizer que “quem não é comigo, é contra mim e quem comigo não ajunta, espalha” (Mt.12:30; Lc.11:23). O profeta Amós afirmou que: “Andarãos dois juntos se não estiverem de acordo?” (Am.3:3). Já o apóstolo Paulo assim se manifestou: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?” (II Co.6:14).
Ao contrário do que se disse na campanha eleitoral, o PT não abandonou o seu primeiro programa de governo, aprovado em seu congresso nacional, e que continha diversos pontos incompatíveis com a sã doutrina, e a prova disso foi a revelação feita pelo ministro Gilberto Carvalho de como o PT está agindo para implementá-los, inclusive escolhendo como seu inimigo prioritário os “telepastores”, ou seja, os defensores do Evangelho que têm visibilidade na mídia.
Ao contrário do que se disse na campanha eleitoral, o governo Dilma não tem interesse em defender a liberdade religiosa, mas quer “montar um sistema de comunicação” para desacreditar os líderes religiosos que se mostrarem contrários a seus projetos anticristãos.
Um “pedido de desculpas”, um “pedido de perdão” é suficiente para que a revelação desse projeto, totalmente contrário ao Evangelho, seja considerado “um fato superado”?
É certo que, como cristãos, devemos perdoar, que é dever de todo servo de Cristo dar perdão a quem o pedir (Mt.6:12; 18:21,22). Mas perdão pressupõe confissão e arrependimento, ou seja, que a pessoa admita o erro e mude a sua mentalidade, seu modo de ser, não mais cometendo aquele erro, pois há “um afastamento do pecado” (cf. § 1423 do Catecismo da Igreja Católica).
Ora, se o ministro nem admitiu que tenha feito tais declarações, como aceitar o seu “pedido de perdão”? Se o governo Dilma não mudou sua trajetória no sentido de implementar os pontos programáticos do programa de governo supostamente abandonado, radicalmente contrários ao que ensinam as Escrituras, como entender que há confissão e arrependimento necessários para que haja perdão?
Será que, em vez de seguirmos o que nos ensina o sábio Salomão, de quem só confessa e deixa é que alcança misericórdia (Pv.28:13), nossos ilustres parlamentares preferiram seguir o poeta Mário Lago e dizer que “perdão foi feito pra gente pedir”, mas se esquecendo de que o ministro, ao contrário do homem que veio se humilhar naquele poema, está seguindo, mesmo, a filosofia do sambista Manoel Santana, que pediu perdão a Deus por pecar ao sambar, mas, mesmo assim, sambou até morrer?
* Grupo Interdisciplinar Bíblico de Estudos e Análises, um grupo de estudos formado originariamente de ex-alunos e ex-professores da Faculdade Evangélica de São Paulo (FAESP) e que agora atua em parceria com a Associação para a Promoção do Ensino Bíblico (APEB). Com a colaboração de Julio Severo.
Fonte: www.juliosevero.com
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