sábado, 27 de fevereiro de 2010

Mulheres da Paz

O Projeto Mulheres da Paz foi criado no âmbito do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). O Projeto tem como objetivo incentivar Mulheres, por meio de transferência direta, a construir e fortalecer redes sociais de prevenção e enfrentamento às violências que envolvem jovens expostos à violência.

O Projeto é amparado pela Lei nº 11.530, de 24 de outubro de 2007, alterado pela Lei nº 11.707 e regulamentado pelo Decreto nº 6.490, ambos de 19 de junho de 2008, e integra as ações do Pronasci na construção coletiva de um novo paradigma de segurança pública entre Governo Federal e as Unidades da Federação.

Para participar do Projeto, a Mulher deverá passar por um processo de seleção e de capacitação promovido pelas Unidades da Federação pactuadas com o Pronasci.

Público-alvo
Mulheres das Regiões mais atingidas pela violência e criminalidade que compõem o foco territorial do Pronasci

Fonte: http://portal.mj.gov.br/pronasci

Mulher

Na história, a luta por direitos das mulheres tem marco no dia 8 de março de 1857, quando uma rebelião de operárias norte-americanas (NY) colocou em pauta reivindicações por melhores condições de trabalho, redução na carga horária diária, equiparação de salários com os homens e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho, dentre outros direitos.

Os desejos daquelas trabalhadoras se tornaram pauta de debates, discussões e políticas em todo o mundo, garantindo avanços nas variadas instâncias da sociedade.

Para as mulheres brasileiras, por exemplo, a década de 30 foi histórica, quando garantiram o direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

MÃE É FOGO

*Luís Fernando Veríssimo


Mãe: Alô?
Filha: Mãe? Posso deixar os meninos contigo hoje à noite?

Mãe: Vai sair?
Filha: Vou...

Mãe: Com quem?
Filha: Com um amigo.

Mãe: Não entendo porque você se separou do teu marido, um homem tão bom...
Filha: Mãe! Eu não me separei dele! ELE que se separou de mim!

Mãe: É... você me perde o marido e agora fica saindo por aí com qualquer um...
Filha: Eu não saio por aí com qualquer um. Posso deixar os meninos?

Mãe: Eu nunca deixei vocês com a minha mãe, para sair com um homem que não fosse teu pai!
Filha: Eu sei, mãe. Tem muita coisa que você fez que eu não faço!

Mãe: O que você tá querendo dizer?
Filha: Nada! Só quero saber se posso deixar os meninos.

Mãe: Vai passar a noite com o outro? E se teu marido ficar sabendo?
Filha: Meu EX-marido!! Não acho que vai ligar muito, não deve ter dormido uma noite sozinho desde a separação!

Mãe: Então você vai dormir com o vagabundo!
Filha: Não é um vagabundo!!!

Mãe: Um homem que fica saindo com uma divorciada com filhos só pode ser um vagabundo, um aproveitador!
Filha: Não vou discutir, mãe. Deixo os meninos ou não?

Mãe: Coitados... com uma mãe assim...
Filha: Assim como?

Mãe: Irresponsável! Inconseqüente! Por isso teu marido te deixou!
Filha: CHEGA!!!

Mãe: Ainda por cima grita comigo! Aposto que com o vagabundo que tá saindo contigo você não grita.
Filha: Agora tá preocupada com o vagabundo?

Mãe: Eu não disse que era vagabundo!? Percebi de cara!
Filha: Tchau!!

Mãe: Espera, não desliga! A que horas vai trazer os meninos?
Filha: Não vou. Não vou levar os meninos, também agora não vou mais sair!

Mãe: Não vai sair? Vai ficar em casa? E você acha o que, que o príncipe encantado vai bater na tua porta? Uma mulher na tua idade, com dois filhos, pensa que é fácil encontrar marido? Se deixar passar mais dois anos, aí sim que vai ficar sozinha a vida toda! Depois não vai dizer que não avisei! Eu acho um absurdo, na tua idade você ainda precisar que EU te empurre para sair!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Shakespeare - Poema

Eu aprendi...

...que ignorar os fatos não os altera;

Eu aprendi...
...que quando você planeja se nivelar com alguém, apenas esta permitindo que essa pessoa continue a magoar você;

Eu aprendi...
...que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas;

Eu aprendi...
...que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa;

Eu aprendi...
...que a vida é dura, mas eu sou mais ainda;

Eu aprendi...
...que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu.

Eu aprendi...
...que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar;

Eu aprendi...
...que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito;

Eu aprendi...

...que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você esta escalando-a;

Eu aprendi...
...que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.

William Shakespeare

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quem vê cara não vê coração

* Dainir Feguri

Viajando pelas bandas do sertão de Goiás, quase na divisa do estado do Tocantins na Br/ Belém - Brasília numa das fazendas ouvi a seguinte estória na forma de 'causo'.

"Conta-se que um homem resolveu se achegar numa terras de modo proque lá existia uma moça muito bonita, mas de pouca prosa. O rapaz muito calmo desapeou da sua mula e foi se achegando até falar com o pai da moça o motivo da sua estada ali. Falava com voz mansinha de modo que não assustou os morado do lugar.

- Vim pedi a mão da moça. Muito apreciei o jeito dela e cheguei a conclusão que quero me casar com ela.

O pai respondeu:

- Tem certeza moço? Ela é muito atrevida, não gosta de fazer nada direito do que a gente manda... Teimosa.

- Não tem importância não senhor. Quero casar com ela assim mesmo.

Aceito o pedido os dois se casaram. Seguiram viagem ambos montados em dois animais com toda a traia que a moça herdara como dote. No meio do caminho a mula cansada de tanta carga empacou.

- PREMEEERA. Disse o homem. A mula voltou a trotear e não foi muito longinho empacou de novo.

- SIGUNNNDA. Já não tava lá com boa cara e seu tom de voz já era cada vez mais rompante. A mula volta a caminhar, mas empaca novamente.

- TERCEEERA. Decidido o homem desce e já sacou da cela do animal uma espingarda que não negava fogo e descarregou na mula.

A mulher vendo aquela intolerância, começou a esbravejar, falava como a uma tagarela reclamando da atitude do marido, já que parecia tão bonzinho quando se apresentou ao pai dela.

Ao que o sujeito logo manifestou dizendo:

- PREMEEERA!!!"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Identidade é um processo que se baseia na escolha

* Dainir Feguri
O convívio com adolescentes em projetos me proporcionou uma prática que favoreceu o entendimento deste processo de identificação. Após algumas semanas de execução de um projeto na Companhia da Policia Militar Comunitária, num bairro periférico da capital. Já tínhamos muitos jovens inscritos e freqüentando, eram mais de duzentos adolescentes. A procura se dava pelas famílias, os próprios jovens e dirigentes de escolas da região. Foi no primeiro passeio de inclusão social que conhecemos um novo integrante. Geralmente saiamos de ônibus com os garotos e garotas e tínhamos uma manhã de lazer, apresentações, esportes, e orientações. Naquela manhã faríamos uma visita no Comando Geral da PMMT. O objetivo seria criar uma aproximação entre jovens de comunidade e policiais, além de apresentar a eles o setor onde a policia faz o registro das chamadas 190. Orientá-los sobre a importância deste atendimento para a sociedade e conscientizá-los de que o trote (indiscrição feita por telefone) não é viável, pois ambos ter perdas significativas, tanto o comando quanto a sociedade. A caminho do Comando Geral, o percurso seria de aproximadamente 25 km. Todos os adolescentes estavam orientados sobre como se comportar tanto no percurso, quanto no local da visita. O nosso novo integrante recém chegado que chamarei de LY não havia passado pelo processo de sensibilização. Rapaz de 16 anos, forte, 1,80 de altura foi encaminhado para o projeto pela direção da escola. Queixa: comportamento inadequado, violento e que a última de suas estripulias foi tentar enforcar a professora porque não concordava com as notas que ‘ela lhe dava’, muito baixa. Ao entrar no ônibus apresentou comportamento como: cuspir nos transeuntes que trafegavam nas calçadas, ameaçar os colegas e confrontou com uma das facilitadoras que fazia parte do projeto. Ao ser chamado a atenção sobre o comportamento nefasto, revidou com ameaças. Durante a visita adotamos a postura de incluí-lo no processo educativo, delegando tarefas e co-responsabilidades para ele. Por exemplo: tomar conta do estoque de bolas e entregá-las as equipes que participariam de jogos e brincadeiras. Diria que após alguns deslizes, LY conseguiu entender o seu novo papel no grupo. Os encontros se davam na comunidade do bairro Pedra 90 durante a semana e por quinzena fazíamos passeios de inclusão social em zonas urbanas e rural. Após alguns meses percebi que mesmo o esforço de tentar passar a abordagem sobre o processo evolutivo do adolescer saudável e outras temáticas, LY parecia permanecer sem nenhum progresso. Passei a observá-lo mais de perto e coletar novos dados sobre como era sua convivência no bairro. LY repetia o ano e não conseguia terminar o ensino fundamental, foi expulso da escola. Seu porte físico o favorecia em levar vantagens sobre os demais. Então LY me procurou e disse que sua turma o havia questionado sobre com quem ele deveria escolher ficar. Perguntei: - Quem é a sua turma? Respondeu: - Minha gangue. Indaguei: Quem você escolhe? Agitou-se de um lado e de outro, girou o boné sobre a cabeça, sorriu sem graça e disse que estava com dúvidas. Então prossegui. - O que você ganha sendo integrante do grupo deles? Imediatamente respondeu sem pestanejar: - Respeito. Perguntei: - O que você faz que eles tenham esse sentimento por você? Voltou a sorrir e começou a falar com um ânimo que lhe conferia um ar de vantagem. – A gente saí por aí armado e azara as pessoas nas feiras, bate nos carinhas... - Ok! – E o que você encontra aqui no projeto que o faz sentir essa dúvida em escolher? Respondeu: – Sei lá, acho que é o jeito dos caras nos tratar, os encontros são legais, é outra turma, diferente, mais chatinha, mas aqui a gente não corre o risco de morrer. Então parei as indagações e apresentei a ele uma garota da mesma idade que estava participando conosco e que outrora foi ex-integrante de uma gang. Deixei os dois sozinhos para que pudessem falar sobre o assunto. A pessoa mais indicada para o aconselhamento seria um outro adolescente mais orientado para fazê-lo compreender os fatos. Pois adolescentes quando se sentem pressionados só escutam outro adolescente. LY desistiu da gangue e permaneceu no projeto. Após três meses de acompanhamento e orientação intensiva aos jovens do projeto, num momento de fechamento das oficinas sobre violência, os adolescentes criaram uma expressão para que todos dissessem junto como símbolo de sua escolha. A frase: ‘Pela Paz’. Havia quarenta adolescentes nesta oficina e após terem revisado a temática ‘Por uma cultura de paz e não violência’ – sinalizei para que após a contagem de 1, 2, 3, todos diriam a frase ao mesmo tempo. Para minha surpresa enquanto trinta e nove gritaram pela PAZ, um integrante fez o inverso, gritou pela VIOLÊNCIA. Apesar de ser minoria na voz, sua liderança se destacou entre os demais e chocaram alguns, assim como fez com que outros o admirassem pela ousadia de confrontar a orientadora. O autor do grito? – LY! Novamente estava diante do começo, parecia que tudo que havia trabalhado nas oficinas de nada valeu. Estávamos na estaca zero. Passei a investigar seus familiares, pais, parentes, vizinhos, e nada encontrava. Todas estas pessoas eram ok. Sem nenhum desvio de conduta. Já sem esperanças de entender o que havia por trás daquele comportamento, foi que o inesperado aconteceu. Novo passeio numa manhã de domingo. Desta vez faríamos o encontro num distrito vizinho, chamado Coxipó do Ouro. Passaríamos o dia numa chácara e voltaríamos ao final da tarde. A programação se deu com tranqüilidade. E quando retornávamos, de ônibus, me sentei no primeiro banco, na janela, a direita do motorista. LY vinha na frente em pé na escada, próximo a porta, conversava sobre o passeio. O ônibus seguia lentamente pelas vielas estreitas, sem asfalto com pequenos sulcos feitos pela erosão das chuvas, as casas no estilo ranchinho, de pau a pique, algumas cobertas com telhas, outras com sapé. A paisagem fazia aquele lugar parecer sereno. Foi quando passamos enfrente a uma casa, uma pessoa do sexo masculino caia pela porta afora, de costas, tombando para trás, outras pessoas estavam atônitos, em pé, inertes, com os olhos arregalados como se não acreditassem no que viam. A vítima tinha uma perfuração na cabeça, na fronte, sangue jorrava e seu corpo estremecia de forma compulsiva ao chão. O ônibus prosseguiu viagem e fiquei em silêncio. Aquela cena brutal me aborrecia. LY sorria ironicamente e me fez esta pergunta: - A senhora não gosta disso professora? Respondi calma e lentamente: - Não! Perde este rapaz que não poderá ir trabalhar amanhã, perde a família que terá que conviver com esta lembrança brutal, perde a comunidade que fica com mais um histórico de violência em sua cultura. LY então se lembra de um fato ocorrido na sua infância e passa a me relatar. “Professora, eu tinha sete anos de idade, estava indo comprar cigarro quando vi as pessoas na rua do Pedra 90, bairro onde moro, correndo e se escondendo. Então vi um homem vir correndo na frente e outro o perseguia. O de trás atirou em suas pernas e o cara caiu bem na minha frente. As pessoas gritavam para eu sair de lá, mas eu não conseguia, da cintura pra cima eu me agitava, mas as pernas parecia anestesiada e eu não conseguia dar um único passo. O homem com as pernas quebradas pelos tiros, estendia a mão para mim pedindo socorro. Foi quando o atirador se aproximou de mim, com o revólver na mão e desferiu mais tiros desta vez na cabeça da vítima já caída. O assassino olhou para mim, retirou um cigarro do maço, bateu as pontas do cigarro na caixa de fósforo, acendeu, deu uma tragada, e olhando para mim fez um gesto com o dedo indicador na boca que parecia dizer ‘silêncio’, guardou a arma e saiu andando. – Olha só professora o carinha morreu”. O episódio pelo que passamos fez LY ter um insight de uma cena traumática anterior em sua vida. A criança aos sete anos constitui um aprendizado da ética, do certo ou errado. E analisando o comportamento de LY e em outros momentos que podemos conversar ficou claro que no processo de identificação de LY se deu com a personalidade do assassino. Para ele o sentido de sobrevivência só permanece vivo quem for mais predador e agressivo do contrário poderá terminar igual à vítima. Atualmente LY tem 23 anos, uma família, uma linda filha, seu comportamento mudou completamente. Apesar de apresentar dificuldade financeira e o mercado de trabalho escasso devido à falta de formação profissional. Trabalha como segurança de festa (free lance). Muitas vezes LY procura orientação para a vida e infelizmente poucas vezes foi possível ajudá-lo. A falta de políticas públicas para jovens dificulta este trabalho que mais parece ser feito isolado, o que não deveria ser.

Entorpecentes potencialidade para a desestruturação mental

* Dainir Feguri
Atuando nas Alternativas Penais com justiça terapêutica, conheci um jovem que cumpria pena por uso de entorpecente. Ele se parecia muito com um ex-jogador de futebol, atualmente aposentado. Parecia um sósia e trazia como apelido o nome do mesmo. Apresentou-se no NUPS solicitando que deveríamos rever o seu processo, buscava se candidatar ao cargo de vereador junto a Câmara Municipal de Cuiabá e isto o impedia. Vestia uma calça jeans com a barra toda em desalinho, um terno cujo manequim parecia ser maior que o seu. Usava um cinto preso ao pescoço e na ponta tinha um boneco de plástico amarrado, o boneco era de um herói infantil chamado ‘Gohan’; os pés estavam calçados com um velho tênis, bastante surrado. Perguntei a ele o que trazia no pescoço. Sua resposta foi enfática: - Minha gravata! O conduzi a sala de atendimento e fiz um levantamento diagnóstico de seu estado de saúde mental. O beneficiário encontrava-se em surto psicótico. Percebi que seu dedo indicador tinha sido decepado na ponta da falange, abaixo da unha e estava com a pele costurada, com linha de algodão, própria de costurar tecido. Indaguei-lhe sobre o corte. Respondeu-me que desejava ter uma linha telefônica celular e entrar em contato com a dupla Sandy e Junior. Então ele fez um sinal com a mão em forma de punho porrete e abriu um arco como um suposto arco-íris e disse ter feito isso através da luz. Diante do fato resolvi efetuar um encaminhamento para internação e tratamento junto ao hospital psiquiátrico da Capital. Mas o trâmite burocrático impossibilitou uma intervenção mais efetiva e a internação não aconteceu, o paciente acabou indo embora sem atendimento. Dias mais tarde o beneficiário retorna ao NUPS, eu apresentava problemas respiratórios e estava afônica, minha voz quase não se ouvia. Então ele teve uma fixação pelo fato de eu estar rouca e passou a perguntar sistematicamente: - Você está rouca porque chupou picolé? Respondi-lhe que não. Insistentemente perguntou novamente: - Você está rouca porque chupou picolé? Minha resposta foi não. E retomei o atendimento. A sala de atendimento era ampla, mas com a disposição dos móveis inadequada para este tipo de atendimento e cliente. A cadeira ficava encostada em uma parede, à mesa servia de anteparo, mas o beneficiário se posicionava próxima à porta, a única saída. Na sala não havia nenhum outro profissional. Eu estava só e sem voz. Enquanto eu efetuava o preenchimento da guia solicitando a internação. O beneficiário insistia na pergunta acima. Então fui enfática e disse que não. Mas ele estava sentado a minha frente com as pernas cruzadas na forma de quatro americano, o calcanhar esquerdo em cima da coxa direita, com a braguilha da calça aberta e levantava o olhar para os meus olhos e retornava o olhar para o zíper aberto. Seu delírio parecia dizer: se você está rouca porque chupou picolé, eu te ofereço um outro ‘picolé’ para resolver o problema. Fez isso por três vezes. Procurei manter a calma e pensei como contornar a mesa sem que fosse atacada. Em nenhum momento meu olhar foi direto para onde ele apontava. Levantei-me e me assegurei de ter em mãos algum objeto de peso caso eu precisasse me defender. Mas, tinha que agir rápido, antes que ele percebesse que eu queria escapar. Num impulso saltei na porta e abri já saindo fora, ele se recompôs como se nada tivesse acontecido e saiu do prédio. Mas voltou outro dia e ficava em silencio sentado no corredor num banco mais próximo a sala onde eu trabalhava. Parecia aguardar uma oportunidade, seu olhar estava muito esquisito quando eu entrei no corredor. Adotei o método de senha e sinal com os colegas servidores para que eu pudesse abrir a porta e seguir o atendimento a outros beneficiários. Felizmente com a gravidade dos fatos foi possível conduzi-lo ao hospital psiquiátrico e efetuar sua internação. O beneficiário ficou internado por 30 dias e depois fugiu. Com o laudo diagnóstico do psiquiatra em mãos foi possível constatar que o paciente fez uso de entorpecente ainda na adolescência e como tinha predisposição a psicose, desenvolveu um quadro de esquizofrenia paranóide com surto irreversível. Segundo a avaliação do médico não havia medicamento que pudesse trazê-lo de volta a realidade. Então pude concluir que tínhamos uma pessoa potencial para ser vitimizada ou vitimizar. Ainda naquele mesmo ano o beneficiário estava respondendo a um segundo processo, por tentativa de homicídio a uma mulher, onde tentou matá-la com uma arma branca e incendiar o seu carro. Veja que quantas pessoas estão por ai fazendo uso de entorpecentes sem se dar conta da potencialidade que ocorre quando a estrutura já o predispõe a uma doença mental irreversível.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O SIGNIFICADO DA ERVA

* Dainir Feguri
Numa manhã de primavera estacionei meu carro embaixo de uma árvore cuja flor do cerrado mato-grossense em plena exuberância exibia suas pétalas mui pequeninas, na cor lilás. Ao retornar verifiquei que o capô do carro estava coberto pelas flores, o sentimento que tive foi de ter recebido da natureza um banho de harmonia. Colhi algumas flores, coloquei em um envelope de carta e guardei comigo. Chegando ao local de trabalho, recebi um telefonema de um jovem que foi submetido a tratamento pela Justiça Terapêutica, por uso de entorpecente e tráfico de drogas. Ao telefone, disse que estava me ligando porque queria se despedir, que iria acabar com a própria vida, encontrava-se em profunda tristeza. Pedi a ele que antes de qualquer atitude viesse até a central, local onde estava trabalhando para que eu pudesse me despedir pessoalmente. Horas mais tarde chegou, abatido, chateado e com muita revolta. Disse que tinha apanhado de um policial violento, que foi chutado, pisado e teve uma folha de telha tipo eternit (grossa) quebrada em suas costas. Estava cansado desse tipo de abordagem. Questionava o fato de ser negro e morar e estar na periferia. Este jovem apesar do vicio tem uma história de vida que vale a pena rever. Trabalhava como churrasqueiro no período noturno, chegava às 16 horas no trabalho e saia apenas quando o ambiente fechava. Respondia por tráfico de entorpecente porque tentou levar maconha para um colega no presídio que estava com síndrome de abstinência. E fazia uso de entorpecente como maconha e pasta base. Sua baixa-estima se dava por um sentimento de culpa que carrega ainda hoje. Uma situação trágica ocorrida com o pai. Ainda menino ajudava seu pai na mesma tarefa laboral (churrasqueiro). O pai pediu a ele para acender o fogo da churrasqueira. O garoto ao tentar acender o fogo houve um acidente com álcool no fundo do recipiente, seu pai sofreu queimaduras graves, inclusive porque inalou o fogo e teve seu esôfago queimado, sendo isto a causa de sua morte. Até então este jovem procura meios de aliviar a sua culpa e se percebe como alguém que não deveria viver. Mas este não é o motivo que ele queria se matar. Vendo a tristeza que apresentava em seu semblante, disse algumas palavras de conforto e consideração e pedi a ele que aguardasse um pouquinho mais que eu lhe daria um presente. Peguei um outro envelope e coloquei dentro dele três florzinhas do cerrado que eu havia colhido. Dobrei o envelope e entreguei a ele. Imediatamente este jovem abre o pequeno pacote e olha dentro como que quisesse entender o que eu havia colocado ali. Quando viu aquelas flores em suas mãos, abriu um largo sorriso e disse: - Doutora a senhora nem imagina a luz que estou vendo no fundo do túnel. Muito obrigado. Disse isso e se afastou sem explicar nada. Num outro dia retornou para falar comigo. Havia um beneficiário que respondia pelo uso de drogadição que estava sendo atendido. Pensei em apresentar um ao outro, já que ambos tinham fatos significativos e parecidos, além de que o processo de identificação ser maior e com mais eficácia. O drogadito não tem identificação no atendimento com pessoas que nunca fizeram uso de entorpecente, esta é a primeira barreira para ajudá-los. Só permanecem no atendimento quando percebem a aceitação incondicional por parte do terapeuta. A frente da mesa mais duas cadeiras foram colocadas e pedi a eles que se sentassem e trocassem algumas idéias, enquanto eu terminava um relatório que estava pendente. Daí então faria o atendimento a ambos. Começaram a conversar. Após alguns momentos o jovem desabafa com o outro beneficiário dizendo: “Cara, pra você vê como são as coisas. Faz um tempão eu plantei um pé de maconha lá em casa, cuidei, ela cresceu, deu folhas. Daí colhi todas as folhas, mas guardei uma que colei numa nota de um dólar. Guardei na minha carteira. Meu talismã. Quando um dia desses o policial (...) invocou comigo, me chamando de vagabundo e veio fazer uma revista. Pediu meus documentos, mas não esperou eu entregar já tomou minha carteira. Ele achou a folha seca e jogou ela no chão, pisou com as botas a folha no chão. Depois resolveu me descer a porrada, quebrou uma folha de eternitão nas minhas costas. Mas o que mais me doeu foi ele ter destruído ela. Tive vontade de morrer”. Veja que naquele dia que apareceu deprimido não trouxe este relato, mas após ter ganhado as flores do cerrado, fez uma associação livre e aquilo lhe deu uma nova esperança. Reflita comigo: flores e frutos. Algum tempo mais tarde este jovem voltou ao atendimento completamente delirante. Havia desistido do emprego. Estava em surto por abuso de consumo de pasta base. E tinha tido mais confrontos com a polícia. Tinha delírios de grandeza – megalomania, crises paranóides, perda significativa de peso. Estávamos no verão. Então ele me disse: “Doutora dia de chuva é muito bom. Porque faz crescer muiiita maconha!”. Este foi o ultimo atendimento, sua mãe foi orientada a levá-lo a um hospital para desintoxicação, o que foi feito mediante o encaminhamento. Quatro anos depois voltei a procurá-lo em sua casa, quando o vi nem o reconheci, apresenta massa corporal melhor e trabalha como lavador de carro num lava jato da cidade.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

MATO GROSSO - ALMIR SATER

Os lírios famintos

* Jorge Adelar Finatto
Existe um ser cada vez mais raro na face do universo. Astrônomos passam as noites em claro, mirando os telescópios para o desconhecido, na incansável busca. No momento em que traço essas linhas, inúmeras expedições científicas partem pelo cosmo à procura do ser que está em vias de extinção. É quase tão belo quanto a estrela da manhã. É mais luminoso que a aurora boreal. É mais precioso que o mais raro diamante. Por causa dele, blogueiros do mundo inteiro invadem as noites oferecendo seus serviços. Impressionantes editores perdem o sono à sua menor lembrança. O ser em questão - esse misterioso - é o senhor da lista dos mais vendidos, é o sonho dos famélicos, o consolo dos maltrapilhos fazedores de livros. Por ele, Cervantes e Thomas Mann foram às vias de fato, Dom Quixote e Hans Castorp romperam relações. Macunaíma, Anjo Malaquias e Urutu Branco não trocam mais emails. É o início do fim dos tempos, ou quase isso. Os cafés literários perderam o sentido sem a poderosa presença do em vias de. As livrarias estão repletas de musas e personagens desempregados. Seria cômico, não fosse trágico. Onde andará aquele que é a razão do meu trabalho?, perguntam-se miríades de escritores na fria solidão dos sem-leitor. A Academia Sueca devia criar o Prêmio Nobel do Leitor, em homenagem a ele, o inefável. As noites de autógrafos só são bem-sucedidas quando é ele quem assina os livros, enquanto os autores esperam a vez na fila infinita. Não vereis dele mais que o vulto fugidio esgueirando-se no labirinto dos blogs e bibliotecas. No entardecer de ontem, cerca de 150 poetas - entre maus, razoáveis e bons - cometeram suicídio no cais de Porto Alegre. Sob o olhar aterrorizado das mães e gritos desesperados das namoradas, os suicidas foram ao fundo do rio com grossos volumes amarrados ao pescoço. Mais de mil caravelas estão partindo nessa hora de Lisboa em busca de um rastro do inefável em alto mar. O impensável está acontecendo. Escritores enlouquecidos batem-se em sangrentos duelos nas praças e ruas da cidade. As últimas notícias dão conta de que lírios famintos estão atacando e devorando escritores. Invadem seus locais de trabalho às escondidas e cometem o bárbaro crime. Aproveitam-se da solidão literária das vítimas, que começa no ato de criar e se estende até o texto publicado e sem leitor, e as destroçam. Só restam folhas brancas, embebidas em sangue, espalhadas no chão.
Fonte: Judiciário e Sociedade

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Eitaaaaaaaaaaa povo sortudo



QUANDO A RESPONSABILIDADE DO CARGO É TRAUMÁTICA

* Dainir Feguri

(...) Trabalhando no poder judiciário houve um momento bastante comprometedor. Foi quando o juiz responsável pelo juizado delegou-me para assumir as funções de responsável pelo setor, no desempenho da coordenação de Núcleo e escrivania.
Lá havia assistentes sociais, motorista, oficiais escreventes, oficiais de justiça e estagiários de psicologia e de direito. A tarefa não seria fácil. Além dos recursos humanos, havia também material e processos parados e outros em andamentos, seriam em média 1.500 documentos.
O ideal para ocupar este cargo seria um advogado, já que a área corresponde a linguagem do direito, mas não, o bendito juiz achou de nomear a mim, psicóloga.
Nos primeiros dias tomei consciência do tamanho da responsabilidade e do que poderia acontecer administrativamente e juridicamente se ocorresse algum vacilo no cargo. Simplesmente somatizei. Transferi para o plano físico o que estava me afligindo psicologicamente.
Diante de tamanha demanda e responsabilidade, fui me dando conta de que a linguagem da saúde nada tinha a ver com a do direito. Ex.: TEMPORAL - é uma palavra comumente usada em ambas, mas totalmente diferente no conceito e aplicação. E assim, havia muita coisa por fazer e isso demandou um mutirão. Ao final dos dias, semanas, mês - o estresse estava instalado. Tentei renunciar ao cargo, mas não foi aceito pela chefia.
Resultado:
Somatizei... Nas glândulas de Bartholin. Estas secretam muco para hidratar a região vulvar. São semelhantes às glândulas dos mamíferos. Estão localizadas bilateralmente na área vulvovaginal profundamente na vulva. Cistos e abcessos são as causas mais comuns de queixas relacionadas a essas glândulas.
O que sentia?
Abscessos. A infecção e a obstrução do ducto, com formação de um abscesso, é um quadro agudo que requer intervenção imediata. A queixa principal é a dor, muitas vezes intensa. O local apresenta-se tenso, quente e muito sensível. Havia uma zona vermelha ao redor da abertura do canal e saída de secreção. Isso me obrigava a andar com as pernas abertas, porque a proporção de cada abscesso era equivalente ao tamanho de uma moeda de 1 real cada. Invejei a projeção do saco escrotal nos homens. Observava como eles andam bem sem queixar que suas pernas estão esbarrando em algo tão evidente.
Liguei para minha ginecologista e supliquei a ela para fazer uma intervenção com uma micro-cirurgia, alegando que eu não tinha vocação para ter testículos. Ela achou graça, mas, ao que recusou dizendo que meu organismo teria que reagir ao processo, porque eu incorreria no risco de transformá-los em tumores. O negócio estava ficando sério.
Resolvi admitir que uma vez colocada no lugar onde não queria estar, o jeito agora era conduzir as ações até encontrar alguém que me substituísse e assim foi feito e mais tarde essa pessoa surgiu. Lição aprendida:

1- Aprender a respeitar os limites físicos e psicológicos. E jamais assumir aquilo que nos é dado por imposição – temer sim o descontrole das reações psicossomáticas, pois esta quando rompe a barreira pode não ter volta.

QUANDO O RH SE TORNA O QG DA MULHER DO CHEFE

* Dainir Feguri
(...) Após alguns meses de trabalho a eficiência estava comprovada. Recebia elogios e a toda hora era solicitada na sala de reunião. O meu honorável chefe demandava a todo instante. Solicita como secretaria da diretoria financeira tratava de mobilizar as equipes para atender as demandas. Mas, tanta demanda um dia me custou o emprego.
O meu chefe era uma figura magra, parecia o Senhor Madruga do episódio da TV – ‘Chaves’, você só via ossos sob pele. Na garganta dele parecia que ele havia engolido um limão. Usava um óculo grande, quadrado, tipo fundo de garrafa, era workholic... Um dia em sua casa o abençoado de tanto chamar pelo meu nome para demandar, dirigiu a sua esposa e chamou pelo meu nome. Foi o 'óh' da questão.
Na manhã seguinte a senhora esposa (*) do chefe chegou à empresa e fez a seguinte cena:
Chamou-me na sala da diretoria e disse impositiva:
- Traga-me uma xícara de café?
Sai da sala, peguei o telefone e liguei para a copeira para que servisse a xícara de café para aquela senhora.
A Senhora (*) não aceitou e dispensou à copeira. Voltando a me chamar, demandou novamente.
- Quero que você mesma me sirva à xícara de café! Disse.
Respondi:
- A distância que temos entre a bandeja de café é a mesma, portanto sirva-se você mesma, já que o desejo é teu. Disse isso e sai da sala.
Mais tarde fui rebaixada de cargo, retornei para a recepção/telefonista e recebi um livro preto, tamanho 275 mm X 200 mm, de 500 folhas - EM BRANCO. Mas, no inicio da página tinha uma frase para ser reproduzida: “Preciso ser mais obediente”. Multiplique 500 páginas pela quantidade de linhas, era a tarefa que eu tinha de cumprir. E a frente uma recomendação: (...) Caso não cumprisse a tarefa seria demitida da empresa. A pessoa responsável pela ordem: a Sra. (*).
Sem entender busquei junto ao diretor explicação para tamanha punição. E ele me disse que a culpa era dele. Que a havia chamado pelo meu nome sem querer. Tomada de ciúme e insegurança ela entrou na empresa com o propósito de me demitir. E conseguiu. Porque eu não aceitei as regras do jogo.
Mas, antes de sair recebi dos donos da empresa um convite (mesa) para uma festa num clube da cidade na época muito famoso. Juntei as amigas e fechamos esta porta com um divertido jantar e muita música.
Lição aprendida:
1- Não tenha vocação para tapete; A assertividade é muito importante nessa hora, mesmo porque engolir sapos - causa depressão.

A RODA QUE RANGE RECEBE GRAXA

* Dainir Feguri
Já ouviu essa frase? Muitas mulheres ficam desapontadas porque suas necessidades não são atendidas quando necessitam, sem que precisem pedir por isso. Digo-lhe que se você não pedir, não correrá o risco de ouvir um “não”, mas tampouco receberá o que deseja. O óbvio dessa questão é quando precisam de um aumento de salário e finalmente criam coragem de pedir. Isso me faz lembrar um fato que ocorreu no meu primeiro emprego.
Quando fui contratada com apenas 16 anos para o cargo de telefonista de uma Concessionária de veículos por um salário mínimo, achei ótimo. Após uma semana alguém pediu demissão do cargo no setor de cobranças e lá fui eu convidada a estar substituindo já que a tarefa não era muito complicada, seria relacionar faturas vencidas no borderô para que o cobrador fosse receber. Enfim, haviam outras responsabilidades junto ao cargo, mas vou me restringir a citar apenas esta.
Alguns meses após entra no setor uma figura masculina foi contratado para realizar a mesma tarefa que eu, porém ganhava salário muito maior. Achei aquilo injusto! Questionei o colega que me disse que recebia essa quantia por ser homem. Dirigi-me até o Diretor Financeiro (Chefe) e após explanar os fatos e justificar ‘porque eu merecia um aumento de salário’ ele concordou. E me deu um aumento que comparado com o salário congelado dos funcionários mais antigos da casa seria eu ganhar o equivalente a eles. De um salário fui para sete. O que equiparou ao do colega que chegou ganhando mais e a justificativa era porque ele era homem.
Resolvi o problema financeiro, mas arrumei encrenca ao comentar ingenuamente sobre o aumento de salário que eu havia recebido. Durante as pausas do trabalho foram aparecendo funcionários dos setores de peças, manutenção, gabinete, etc. E todos me perguntavam o que havia feito para convencer o chefe. Dialogávamos quais eram o salário atual de cada um e o que justificaria a possibilidade de um aumento. E não demorou a ser chamada pela diretoria financeira.
O meu honorável chefe começou assim: “Dona Daíner (ele me chamava assim mesmo), a sra apesar de nova já mostra que tem tendência para sindicalista! O que será então quando ficar mais adulta? Não se comenta esse tipo de coisa com funcionários na empresa”.
Dizer o que. Não tinha como remediar a situação. Prometi que não mais falaria sobre esse assunto.
Lições aprendidas:
1- Não pergunte se está autorizada a receber um abono salarial; 2- Nunca fale demais no local de trabalho aos colegas; Ninguém fica feliz com o seu sucesso. Sonhar todo mundo sonha, mas individualmente, já pensou se sonhássemos todos - o mesmo sonho, não seria sonho e sim pesadelo. 3- Resumindo: assuntos pessoais só nos dizem respeito.
Recomendações:
1- Planeje antecipadamente suas reivindicações, pense no que quer e nos motivos disso. Fale direta e objetivamente e, a cada pedido, acrescente duas ou três razões para ser atendida. 2- Use a técnica da negociação, isto é, expresse seu pedido com uma frase afirmativa. Seja incisiva. 3- Separe os motivos de ‘ser querida’ e de ‘conseguir o que você deseja’, eles são mutuamente exclusivos. 4- Escolha o momento certo de pedir. A noção de oportunidade é tudo na vida, portanto, para seu bem, cultive a sua.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

CIÚME PATOLÓGICO

Em questões de ciúme, a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza freqüentemente se torna vaga e imprecisa. No ciúme as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou francamente delirantes. Depois das idéias de ciúme, a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas dúvidas. O(a) ciumento(a) verifica se a pessoa está onde e com quem disse que estaria, abre correspondências, ouve telefonemas, examina bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas, segue o companheiro(a), contrata detetives particulares, etc. Toda essa tentativa de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida.
Entre absurdos e ridículos, há o caso de uma paciente portadora de Ciúme Patológico que marcava o pênis do marido assinando-o no início do dia com uma caneta e verificava a marca desse sinal no final do dia (Wright, 1994). Mais absurda ainda é a história de outro paciente, com ciúme obsessivo, que chegava a examinar as fezes da namorada, procurando possíveis restos de bilhetes engolidos (Torres, 1999).
Os ciumentos estão em constante busca de evidências e confissões que confirmem suas suspeitas mas, ainda que confirmada pelo(a) companheiro(a), essa inquisição permanente traz mais dúvidas ainda ao invés de paz. Depois da capitulação, a confissão do companheiro(a) nunca é suficientemente detalhada ou fidedigna e tudo volta à torturante inquisição anterior.
O ciúme é uma emoção humana extremamente comum, senão universal, podendo ser difícil a distinção entre ciúme normal e patológico(1). Na verdade, pouco se sabe sobre experiências e comportamentos associados ao ciúme na população geral, mas num estudo populacional, todos os entrevistados (100%) responderam positivamente a uma pergunta indicativa de ciúme, embora menos de 10% reconheceu que este sentimento acarretava problemas no relacionamento (Mullen, 1994).
Nas sociedades monogâmicas o ciúme se associa à honra e moral, sendo até um instrumento de proteção da família, talvez um imperativo biológico ou uma adaptação à necessidade de ciência da paternidade. Até bem pouco tempo atrás, dava-se grande ênfase à fidelidade feminina, enquanto a infidelidade masculina era mais bem aceita. Mesmo em tempos modernos, atribui-se um papel positivo a alguma manifestação ciúme, considerando-o um sinal de amor e cuidado.
O conceito de Ciúme Mórbido ou Patológico compreende vários sentimentos perturbadores, desproporcionais e absurdos, os quais determinam comportamentos inaceitáveis ou bizarros. Esses sentimentos envolveriam um medo desproporcional de perder o parceiro(a) para um(a) rival, desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no relacionamento interpessoal.
Os portadores de Ciúme Patológico comumente realizam visitas ou telefonemas de surpresa em casa ou no trabalho para confirmar suas suspeitas. Os companheiros(as) desses pacientes vivem dissimulando elogios e presentes recebidos ou omitindo fatos e informações na tentativa de minimizar os graves problemas de ciúme, mas geralmente agravam ainda mais.
O que aparece no Ciúme Patológico é um grande desejo de controle total sobre os sentimentos e comportamentos do companheiro(a). Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, as quais podem ocorrer como pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações sem fim sobre fatos passados e seus detalhes.
No Ciúme Patológico várias emoções são experimentadas, tais como a ansiedade, depressão, raiva, vergonha, insegurança, humilhação, perplexidade, culpa, aumento do desejo sexual e desejo de vingança. Haveria, clara correlação entre auto-estima rebaixada, conseqüentemente a sensação de insegurança e, finalmente o ciúme. O portador de Ciúme Patológico é um vulcão emocional sempre prestes à erupção e apresenta um modo distorcido de vivenciar o amor, para ele um sentimento depreciativo e doentio. Esse paciente com Ciúme Patológico seria extremamente sensível, vulnerável e muito desconfiado, portador de auto-estima muito rebaixada, tendo como defesa um comportamento impulsivo, egoísta e agressivo. O potencial para atitudes violentas é destacado no Ciúme Patológico, despertando importante interesse na psiquiatria forense.
As estatísticas policiais sobre as vítimas do Ciúme Patológico normalmente estão distorcidas, tendo em vista o fato das mulheres raramente darem queixa das agressões que sofrem por esse motivo. O Ciúme Patológico pode até motivar homicídios, e muitas dessas pessoas sequer chegam aos serviços médicos. Para Palermo, a maioria dos homicídios seguidos de suicídio são crimes de paixão, ou seja, relacionados à idéias delirantes de Ciúme Patológico (Palermo, 1997). São, geralmente, crimes cometidos por homens com algum problema psicoemocional, desde transtornos de personalidade, alcoolismo, drogas, depressão, obsessão, até a franca esquizofrenia.
O Ciúme Patológico é um problema importante para a psiquiatria, que envolve riscos e sofrimentos, podendo ocorrer em diversos transtornos mentais. Na psicopatologia o ciúme pode se apresentar de formas distintas, tais como idéias obsessivas, idéias prevalentes ou idéias delirantes sobre a infidelidade. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o ciúme surge como uma obsessão, normalmente associada a rituais de verificação.
No Ciúme Patológico o amor do outro é sempre questionado e o medo da perda é continuado, enquanto no amor normal (ou ideal) o medo não é prevalente e o amor não é questionado. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo há sempre dúvida patológica com verificações repetidas, mesmo fenômeno que se observa no Ciúme Patológico. O medo da perda é também um sintoma proeminente no TOC, tanto quanto no Ciúme Patológico. Neste, a perda do ser amado não diz respeito à perda pela morte, como ocorre num relacionamento normal, mas o temor maior, o sofrimento mais assustador é a perda para outro(a).
Na prática clínica, o primeiro ponto importante quando diante de um indivíduo com preocupações de ciúme seria avaliar a racionalidade ou não dessas preocupações, assim como o grau de limitação ou prejuízo que acarretam. O grau de prejuízo costuma ser diretamente proporcional ao caráter patológico. Não raro, atualmente, as preocupações com fidelidade não chegam a ser absurdas e muitas vezes são bastante compreensíveis.
A seguir, deve-se buscar um entendimento psicopatológico do sintoma, diferenciar se o fenômeno se trata de uma idéia obsessiva, prevalente ou delirante. Nesse sentido, é fundamental avaliar o grau de crítica do indivíduo em relação a essas preocupações. Como se sabe, uma pessoa pode estar delirante, ainda que o cônjuge de fato o(a) esteja traindo. Isso ocorre quando a crença na infidelidade for baseada em fatos ou atitudes que em nada a justifiquem, e se for inabalável e irremovível pela crítica racional.
O terceiro aspecto seria a busca do diagnóstico responsável pelo sintoma, o qual, como dissemos, pode se tratar de uma obsessão, idéia prevalente ou delírio. Nunca é demais ressaltar que, da mesma forma que a ocorrência de delírios não implica nenhum diagnóstico específico, obsessões e compulsões não são sintomas característicos e exclusivos do Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Fonte:Psiqweb

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Portal do empreendedor

Está prevista para 08/02/2010 a disponibilização do processo de inscrição eletrônica do Microempreendedor Individual, prevista na Resolução CGSIM nº 16, de 17/12/2009.

O novo processo funcionará simultaneamente em todo o país, e será extremamente simplificado.

Aguardem.

O empreendedor deverá imprimir o Requerimento de Empresário e a Declaração de Enquadramento de Microempresa, utilizando a Consulta Situação do Pedido, na Página da Receita Federal do Brasil, que deverão ser assinados e encaminhados, juntamente com a cópia da carteira de identificação no verso do Requerimento de Empresário, via Correios ou entregue pessoalmente na Junta Comercial do seu Estado, em até 60 dias contados da data da transmissão do CNPJ.

Observação: caso o cidadão não encaminhe a documentação à Junta Comercial do seu Estado no prazo de 60 dias,o número do CNPJ será anulado (tornado sem efeito) retroativamente à data da transmissão do pedido de inscrição do microempreendedor, deixando de ser legalmente constituído como tal."

Para impressão dos documentos para inscrição, clique aqui:Cadastro Sincronizado

O empreendedor deverá imprimir o carnê de pagamento mensal. O pagamento deverá ser feito na rede bancária e casas lotéricas, até o dia 20 de cada mês.

Para impressão do carnê de pagamento, clique aqui:PGMEI

Fonte: http://www.portaldoempreendedor.gov.br/modulos/inicio/index.php

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

AMAI-VOS...

Gibran Kahlil Gibran
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão.
Que haja, antes, um mar ondulante entre as praias de vossa alma.
Enchei a taça um do outro, mas não bebais da mesma taça.
Dai do vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres,
mas deixai cada um de vós estar sozinho.
Assim como as cordas da lira são separadas e,
no entanto, vibram na mesma harmonia.
Dai vosso coração, mas não o confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da Vida pode conter vosso coração.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis demasiadamente.
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente.
E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.
***
Gibran Kahlil Gibran. Assim assinava em árabe. 1883 - Nasceu em 6 de janeiro, em Bsharri, nas montanhas do Líbano, a uma pequena distância dos cedros milenares. Tinha oito anos quando, um dia, um temporal se abate sobre sua cidade. Gibran olha, fascinado, para a natureza em fúria e, estando sua mãe ocupada, abre a porta e sai a correr com os ventos. Todos os livros em inglês de Gibran foram lançados por Alfred A. Knopf, dinâmico editor norte-americano com inclinação para descobrir e lançar novos talentos. Ao mesmo tempo em que escreve, Gibran se dedica a desenhar e pintar. Sua arte, inspirada pelo mesmo idealismo que lhe inspirou os livros, distingue-se pela beleza e a pureza das formas. 1931 - Gibran morre em 10 de abril, no Hospital São Vicente, em Nova York, no decorrer de uma crise pulmonar que o deixara inconsciente.