terça-feira, 28 de junho de 2011

Bullying: formação moral é melhor meio de enfrentá-lo (Parte 3)

Entrevista com Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela USP

Por Aline Banchieri

SÃO PAULO, domingo, 26 de junho de 2011 (ZENIT.org) - O bullying, forma de violência cada vez mais presente em nossa sociedade, é explorado nesta entrevista concedida a ZENIT por Luciene Regina Paulino Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela USP e coordenadora da Linha de Pesquisa “Virtudes e Afetividade” pelo GEPEM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral – da Unesp/Unicamp.

A primeira e segunda partes desta entrevista foram publicadas nos dias 23 e 24 de junho.

ZENIT: Em que aspectos a formação na família e na escola podem contribuir para a educação nos princípios morais e éticos?

Dra. Luciene R. P. Togneta: É preciso cuidar do caráter das crianças. Às vezes, por querermos ser pais democráticos, nos tornamos permissivos e deixamos passar quando as crianças não dividem os brinquedos com os outros, quando maltratam os amigos, ou então somos complacentes com aquilo que ainda ela não pode fazer: fumar, beber na adolescência, por exemplo. É preciso dar um limite de “até onde” esse pequeno homem/mulher pode ir, exatamente para que ele possa aspirar, desejar ser algo que ainda não é. Se permitimos tudo, não há nada mais a conquistar.

A partir disso, é preciso buscar a parceria da escola que, por sua vez, é também responsável pela formação ética de seus alunos. Entretanto, valores morais não são transmitidos, são construídos, são vividos na experiência dos conflitos cotidianos em que se pode pensar sobre os problemas que se tem; ouvir os envolvidos, que podem dizendo como se sentem, que não gostam de ser violentados; ajudar aos meninos e meninas que carecem de sensibilidade moral, a se comover com o outro. Formar valores depende de um trabalho sistemático e preventivo, dia-a-dia, com a participação das crianças nas decisões, nas escolhas, no planejamento, na avaliação do dia. Ou seja, ética, é vacina, e não remédio. Se o bullying é um problema decorrente da falta de ética, é porque a vacina tem faltado nas escolas.

Infelizmente, a escola ainda está voltada apenas ao que fere o que é de todos, já que dificilmente considera que esse crescente olhar sobre o direito e o dever de todos – o que é público – começa pelo reconhecimento e respeito de si mesmo – do que é particular.

ZENIT: Você está coordenando o 2º Congresso de Pesquisas em Psicologia e Educação Moral (II COPPEM), na UNICAMP. Quais foram os principais resultados do 1º COPPEM e o que se busca nesta segunda edição do evento?

Dra. Luciene R. P. Togneta: A possibilidade de promover um encontro com a comunidade científica que trabalha, sob diferentes olhares, um mesmo tema, e a contribuição que podemos dar à comunidade, que tanto deseja compreender sobre o tema da moral para saber intervir, são as maiores conquistas que tivemos durante o primeiro COPPEM e que nos motivou à segunda edição. Neste ano, procuramos chegar ainda mais perto da comunidade. Convidamos jornalistas para mediar as mesas redondas que teremos no congresso. Educar a mídia é nosso grande objetivo. Isso porque a mídia é a grande possibilidade de chegar a professores, pais e à comunidade em geral, aquilo que se faz na universidade.

ZENIT: Luciene, você sempre trabalhou na área da educação, de diversas formas. O que a motiva a acreditar na transformação do ser humano?

Dra. Luciene R. P. Togneta: O próprio conhecimento do ser humano. A definição de inteligência de Piaget me é inspiradora: diria ele que inteligência é a capacidade de adaptação do ser humano. E afirmaria ainda que o dia em que o ser humano parar de se adaptar, não teremos mais o homem. Não é lindo? É fantástico saber que o homem pode se transformar. Não é tarefa fácil, sabemos, mas é preciso esperança. É o que tenho e que me motiva a estudar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário